De acordo com dados divulgados no mais recente anuário da ABRA – Associação Brasileira de Reciclagem Animal –, o mercado brasileiro produziu, em 2019, mais de 650 mil toneladas de farinha de vísceras e, em 2020, foram 680.619 toneladas.
Ricas em proteínas e gorduras, com um amplo perfil de aminoácidos, as farinhas de vísceras têm alta disponibilidade de minerais com elevada disponibilidade de cálcio e fósforo. Além disso, proporcionam melhorias no odor, sabor e textura das dietas, deixando-as mais palatáveis aos animais, por isso, são largamente utilizadas na alimentação de animais não ruminantes como pets, aves, suínos, peixes e camarões. “A farinha de vísceras tem uma ótima absorção/conversão na dieta animal, além de ser um palatabilizante natural”, acrescenta Charbel Syrio, Diretor da A&R Nutrição Animal.
O Diretor da Progan BR, Alexandre Ferreira, explica que as principais variações qualitativas das farinhas de vísceras são a proteína e a matéria mineral e estas características ocorrem de maneira inversamente proporcional. Ou seja, quanto maior a proteína, menor a matéria mineral e vice-versa. “O que determina esta variação é a proporção de ossos na composição da farinha. Quanto mais ossos, maior será a matéria mineral. As farinhas de vísceras de alto teor de proteínas são as mais valorizadas comercialmente e constituem um produto de valor agregado para as dietas premium no mercado pet food.”
Alexandre lembra ainda que os ingredientes de origem animal devem ser livres ou respeitar um limite determinado pela legislação em termos de ausência de contaminações, oxidação e acidez. “Digamos que estas sejam as exigências básicas. No entanto, as farinhas podem ter o seu valor agregado por certificações de processo que podem garantir características importantes para o mercado como o frescor da matéria-prima pré-cocção; a homogeneidade dos lotes de produção em termos de características físico-químicas; a digestibilidade e o baixo teor de lipídios presentes nas farinhas.
Os benefícios do uso das farinhas de origem animal vão além das questões nutricionais, com a sua utilização na produção de rações, o Brasil não precisou plantar 2,1 milhões de hectares (milho e soja), consumir 1 milhão de toneladas de adubos, gastar R$ 800 milhões em defensivos agrícolas e utilizar 12 bilhões de metros cúbicos de água, só para citarmos algumas das contribuições.
O MERCADO
As farinhas de vísceras estão classificadas por High Ash (alto teor de cinzas, ou seja, matéria mineral), Standard (teor mediano de cinzas) e Low Ash (baixo percentual de cinzas, ou seja, matéria mineral), sendo esta última bastante demandada pela indústria pet food para alimentos premium e superpremium. “Cada vez mais o mercado exige proteína em um nível adequado e balanceado com o teor de matéria mineral e gorduras. Sabendo a destinação é possível preparar a farinha de vísceras de uma forma customizada, atendendo exatamente as exigências e necessidades dos clientes”, esclarece Charbel, Diretor da A&R Nutrição Animal.
Além de abastecer o mercado interno com as suas farinhas, há 15 anos a A&R Nutrição Animal atua na exportação atendendo a países latino-americanos, africanos e do sudeste asiático, mostrando ao mundo a qualidade dos produtos brasileiros.
O Operador de Negócios da Aboissa, Henrique Rodrigues, afirma que o Brasil ocupa um lugar relevante no quesito produção e qualidade das farinhas de vísceras. Grandes players como JBS/SEARA, BRF e Aurora são, hoje, protagonistas na produção deste ingrediente e há também uma série de frigoríficos e aviários bem estruturados e autossuficientes por todo o território brasileiro.
Em relação às exigências do mercado, Henrique aponta que há três principais aspectos a serem considerados: proteína bruta contida na farinha que quanto mais alta maior qualidade na absorção; a questão da matéria mineral (ossos e cartilagens) que estimula o crescimento no caso das aves e a coloração da farinha, priorizando o aspecto mais claro, que tende ser mais pura, ou seja, livre de misturas que possam interferir na qualidade do produto. “Atualmente, temos uma alta demanda no mercado interno que consome praticamente toda a nossa oferta. Mas, não deixamos de atender o mercado externo que presenta 18% dos nossos negócios de farinhas. Direcionamos as farinhas produzidas na Argentina para suprir as demandas na Colômbia e Vietnã”, explica Henrique, acrescentando que o mercado de farinha de vísceras é tido como um negócio de grande potencial, mas ainda pouco explorado. “Este é um ingrediente versátil e com importantes resultados na nutrição dos animais. Há um horizonte cheio de boas expectativas para a farinha de vísceras.”
Sediada em Houston, no Texas (EUA), a Progan Us Corp. fornece proteínas, gorduras e óleos animais de diferentes espécies para os países das Américas e Europa. Após anos como fabricantes, a companhia criou uma rede de fornecedores de diversos produtos, garantindo a qualidade e a rastreabilidade dos ingredientes. Hoje, está presente nos Estados Unidos, Argentina, Brasil (Progan BR), Equador, Colômbia (Progan SAS), Costa Rica, Honduras, Polônia, Alemanha, Holanda e Espanha, comercializando cerca de 1.500 toneladas mensais de farinha de vísceras no mercado internacional. “O mercado brasileiro está bastante valorizado em consequência da pujança do setor pet que vem exercendo uma pressão importante sobre as compras. Nossa expectativa é auxiliar as empresas brasileiras a exportarem suas farinhas para a América Latina e Estados Unidos”, afirma Alexandre Ferreira, Diretor da Progan BR.
Com capacidade de produção de 1.000 a 1.200 toneladas por mês de farinha de vísceras, a empresa Semix tem competência para desenvolver produtos de acordo com a exigência de cada cliente. “Com a Nova Instrução Normativa do MAPA, farinhas mistas, por exemplo, passaram a ser uma alternativa, nutricionalmente falando, interessante. Sem dúvida, as principais exigências em relação à qualidade das farinhas continua sendo os níveis de proteína, de matéria mineral, de extrato etéreo, de acidez, peróxido e granulometria”, analisa o Diretor-Executivo da Semix, Rodrigo Soria.
Sobre o desempenho e expectativas de consumo pelo mercado interno, Rodrigo afirma que no Brasil o segmento de farinhas está consolidado e ainda observa uma importante demanda por ingredientes de baixo material mineral. Em 2021 a empresa obteve habilitação do MAPA para exportar e já tem negócios em andamento. “Pretendemos exportar em torno de 20 a 30% da nossa produção mensal, incluindo todas as opções de farinhas que produzimos, para isso, estamos adequando os nossos processos produtivos e logístico e o nosso foco é a Ásia”, almeja Rodrigo.
Por: Lia Freire
Fonte: PUBLICAÇÃO DA REVISTA RECICLAGEM ANIMAL – GRAXARIA BRASILEIRA.